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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Rikka, o estilo clássico

Segundo a Japan Encyclopedia, o estilo Rikka foi codificado em 1462 pelo grão-mestre Sengyo Ikenobo, durante o período Muromachi (1338–1573). Ele é a base da ikebana, sobre a qual evoluíram todos os outros estilos.

É desta época a composição básica de um arranjo Rikka clássico, que consiste em sete partes principais (shin, soshin (ou shin-kakushi, soe, soe-uke, mikoshi, nagashi e maeoki).

No final do século 16, os mestres Senko I e, no século 17, Senko II, completaram o estilo, que hoje pode conter até nove elementos (shin, shoshin, soe, uke, nagashi, mikoshi, hikae, do e maeoki), além de complementos (ashirais).

O vaso adequado para este estilo em geral tem de 20 a 30 cm de altura, devendo ser aberto no topo. Os ramos devem elevar-se eretos do centro do kenzan, como se fossem um único galho.

Segundo o site da Ikenobo Society of Floral Art, organização japonesa com sede em Quioto que congrega os praticantes de Ikebana Ikenobo, há pinturas mostrando o estilo Rikka feito por Senko II no templo de Manshuin, nas bibliotecas de Yomei-bunko e do Ikenobo Headquarters, em Quioto, e no Museu Nacional de Tóquio.

Ainda hoje, o estilo Rikka é o mais sofisticado da escola de Ikebana Ikenobo.

Rikka shofutai, um clássico moderno

O estilo tradicional Rikka é um arranjo muito elaborado, podendo levar horas para ser executado.
No final do século 19, início de 1900, foi desenvolvido o estilo Rikka Shofutai, que era mais fácil de ser feito e, portanto, ensinado.

Ele consiste de nove elementos (yakueda): shin, shoshin, soe, uke, nagashi, mikoshi, hikae, do e maeoki), além de complementos (ashirais).
Quem entende sua linguagem visualiza uma paisagem bem definida, formada por meio dos elementos que saem de pontos precisos (de).

Rikka shimputai, inovador e contemporâneo



A partir do fato de que nosso estilo de vida está passando por grandes mudanças, em 1999 o atual grão-mestre da escola Ikenobo, Sen'ei Ikenobo, idealizou um formato estilizado de rikka, que chamou de shimputai.

Mais simples de ser realizado, o Rikka Shimputai tem dois elementos básicos: o galho principal (shu) e o complementar (yo).

A ele podem ser acrescidos complementos (ashirais), se necessário:

Shoshin : cria um elemento central no arranjo.
Nagashi: imprime estabilidade à composição.
Maeoki:funciona como uma âncora, dando beleza ao trabalho.
Hikae: equilibra a ikebana.

No caso do Rikka Shimputai, mais importante do que seguir regras é o desenho, a concepção do arranjo, que é bastante individual. O arranjo deve criar harmonia no contexto do estilo de vida contemporânea.

Fontes:
Ikenobo Ikebana Floral Art.


FRÉDÉRIC, Louis. Japan Encyclopedia. Cambridge: Harvard University Press, 2005, p. 755. Acesso em: 17 jan 2011.

Monica Martinez
Foto: Primeiro arranjo: Senko Ikenobo II, Rikka-zu, número 59.
Segundo e terceiro arranjos: Sen'ei Ikenobo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O surgimento da escola Ikenobo



Kao irai no Kadensho
, o primeiro manuscrito conhecido sobre Ikebana, data de 1486. Contudo, a obra que marca o surgimento da escola Ikenobo seria escrita cerca de meio século mais tarde. Trata-se de Senno Kuden – Ensinamentos Orais de Senno Kuden – provavelmente de 1542, um ano antes do falecimento de seu autor, Senno Ikenobo, aos 61 anos de idade.

E porque Senno Kuden é considerada tão importante? Segundo o atual grão-mestre, Sen’ei Ikenobo em The Book of Ikebana, parte 1, o novo espírito dos arranjos florais está estabelecido no prefácio da obra:

“Eu tenho ouvido que flores têm sido colocadas em vasos desde tempos antigos. Mas estas flores eram admiradas somente pela sua beleza externa, sem a consciência de suas expressões naturais sutis que flores e ramos podem dar. Nossa tradição, no entanto, usa tanto as folhas quanto as flores para arranjar uma imagem ideal de beleza interior das plantas, uma imagem baseada nas formas naturalmente ocorrentes das plantas e árvores do campo, montanha e lago. É esta forma de apreciação de flores que tem se espalhado por todo país”.

O atual grão-mestre explica que a obra, também chamada de Omaki, faz parte até hoje dos ensinamentos da escola Ikenobo. Segundo ele:

O Senno Kuden defende uma forma de arranjo das flores essencialmente diferente de todas que a precederam. Folhas eram de igual importância às flores. Em vez de simplesmente serem colocadas num vaso, as flores eram arranjadas com uma consciência de que elas por si só refletem a beleza dos vastos movimentos da natureza. A “imagem ideal” das “formas naturalmente ocorrentes das plantas e árvores do campo, montanha e lago” foi a base para uma Ikebana de nova e vital expressão. Não apenas as flores, mas flores, folhas e galhos arranjados juntos sugerem a verdade da beleza da natureza de uma forma que fala aos nossos corações. Mais tarde, isso foi descrito como “colocar para fora a essência da forma natural da planta”.

Segundo Sen’ei Ikenobo, o Senno Kuden é considerado a fundação espiritual da escola Ikenobo de Ikebana.

Até o século 20, todavia, esses ensinamentos eram transmitidos apenas de mestre para discípulo. O poscrito do Senno Kuden adverte:

O precedente manuscrito é de posse secreta desta casa. Esse ensinamento é raramente transmitido para outros. No entanto, apesar da minha idade e doença, eu registrei este ensinamento como um suplemento à instrução oral de acordo com o pedido do mestre Kensei do templo Iwakura de Koshu. Faça todo esforço para se assegurar que ele não seja visto por outros.

Ainda hoje, os ensinamentos são transmitidos de forma lenta e gradual, uma vez que não basta a perícia técnica. O aprendiz precisa compreender na prática, arranjo após arranjo, o verdadeiro espírito defendido por Senno desde o século 16.

Monica Martinez

*As traduções do inglês para o português foram feitas pela autora.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As origens da ikebana Ikenobo

Segundo Louis Frédéric, autor de Japan Encyclopedia, Ono No Imono era um aristocrata da corte da imperatriz japonesa Suiko. Em 607 d.C., ele foi enviado pelo príncipe Shotoku Taishi em uma primeira missão diplomática à China.

As viagens de intercâmbio deram bons frutos, causando grande desenvolvimento na civilização japonesa, seja na parte tecnológica como na religião e nas artes. Foi o caso da astronomia, arquitetura e literatura, entre outras. Foi na China, também, que Ono No Imono familiarizou-se com os grandes arranjos de flores (tatebanas) ofertados nos altares budistas.

Ao terminar sua missão, Ono No Imono se tornou monge, recolhendo-se a um dos mosteiros budistas fundados pelo príncipe Shotoku, o Templo Rokkakudo, em Quioto. O nome rokkaku deve-se ao formato hexagonal da construção erigida em homenagem a Nyoirin Kannon, deusa da Misericórdia.

O templo Rokkakudo localiza-se perto de um lago (ike em japonês), próximo ao qual Ono No Imono passou a viver em uma humilde cabana (bo). Ao se consagrar monge, ele recebeu o nome Senmu Ikenobo e, entre suas funções religiosas, dedicava-se à confecção de arranjos de flores para o altar do templo. Desde então, no Japão, a ikebana tem sido considerada uma forma de arte, mas também um estilo espiritualizado de vida chamado kado (de ka, flor, e do, caminho).

A partir de Senmu, a palavra Ikenobo passa a nomear a mais antiga escola de ikebana, bem como a família que, por gerações, têm servido de sacerdote do templo Hokkakudo – uma vez que o prefixo Sen é passado de pai para filho primogênito. Atualmente Sen’ei Ikenobo, nascido em 1933, é o 45º. grão-mestre desta escola que busca descobrir a verdade na beleza das flores ao abraçar o Espírito de Harmonia defendido pelo príncipe Shotoku.

Hoje o templo Rokkakudo é o 18° local de peregrinação da deusa Kannon, num roteiro que compreende 33 templos. Além disso, é a sede da Ikenobo Society of Floral Art (Ikenobo Kodokai).

Texto: Monica Martinez

Referências
FRÉDÉRIC, Louis. Japan Encyclopedia. Cambridge: Harvard University Press, 2005, p. 755. Acesso em: 17 jan 2011.
IKENOBO, Sen’ei. The book of Ikebana: part 1. Kyoto, Inebobo Somusho, 1985.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

As origens da ikebana


Ikebana (de ike, vivificar, e bana, flor) é uma arte tradicional japonesa.

Sua origem remonta ao século VI, período de intenso intercâmbio cultural entre China e Japão. Neste momento em que o budismo é introduzido no Japão, via Korea, os japoneses acolhem igualmente o hábito de colocar flores nos altares. Tratavam-se das tatebanas (de tateru, colocar as flores em pé, na vertical).

“Muitos são os estudiosos que acreditam que a própria origem do Ikebana está ligada ao kuge, o ato de colocar flores no altar de Buda. Mas, por outro lado, não podemos esquecer que antes do Budismo ser introduzido no Japão já havia o costume de se oferecer flores aos deuses”, dizem Kimiko Abe e Tokulo Kawamura, autoras de Ikebana – Arte e Criação no Estilo Ikenobo. O mais provável, portanto, é que tenha havido uma convergência de práticas.

No período Heian (794-1192) a prática de arranjar flores em vasos descola-se das oferendas budistas, popularizando-se entre a aristocracia local. Os poemas e escritos daquela época, como A antologia de Waka (Kokin Wakashu), do início do século 10 d C., e A História de Hikaru Genji (Genji Monogatari), do século 11, contêm descrições vívidas da elite apreciando os arranjos.

Já no período Kamakura (1192-1333), quem abraça a arte de arranjos florais é uma nova e poderosa elite formada por guerreiros (samurais). A mudança social provoca alterações no estilo de vida e na própria arquitetura, como o surgimento nas residências de tokonomas – espécies de alcovas sagradas localizadas na sala de visitas (zashiki). Segundo o Livro de Ikebana (Ikenobo Kaden-sho, Part I), é o tokonoma que passa a ostentar o vaso com arranjo de flores, bem como incensos e velas.

Leia também
As bases filosóficas da ikebana: Budismo
As bases filosóficas da ikebana: Bushidô

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ikebana Ikenobo no século 21

A ikebana clássica, da escola Ikenobo, inicia uma nova fase depois de três anos de estudos feitos pelos professores da Ikenobo Society of Floral Art, com sede no Japão. Agora em 2010, Sen´ei Ikenobo, o 45º grão-mestre da entidade -- cuja linhagem remonta ao fundador da escola -- redefiniu os estilos que fazem parte da escola. São eles

Rikka -- o mais tradicional, em suas versões clássica (shofutai), criada no início do século XVI, e moderna (shimputai), desenvolvida após a Segunda Guerra Mundial.

Shoka -- nas versões shofutai, desenvolvida a partir do século 17 inspirada do estilo nagueire, e shimputai, idealizada em 1977 pelo atual grão-mestre.

Jiyuka -- o estilo livre, que surge no final do século XX, também concebido pelo atual presidente da escola.

"Com esta reformulação, o estilo moribana deixa de fazer parte da nossa escola", lembra Emília Tanaka, presidente da Associação Ikebana Kado da América Latina.

A mudança certamente demandará a reciclagem dos professores da área, mas deve facilitar os estudos dos novos aprendizes.

Texto: Monica Martinez
Arranjos em estilo Shoka Shofutai Sanshu-ikê respectivamente de Elza Baptista, Elza Oguma e Monica Martinez, sob orientação de Emília Tanaka.